terça-feira, 27 de julho de 2010

Ágora: Mais do que se espera

Ágora é mais que um filme lindo de assistir com sua vista de satélite estilo Google Earth.
Além de uma reconstituíção perfeita de Alexandria, em todo o seu esplendor no Egito dominado pelos romanos e influenciado pelos gregos, é um alerta contra religiosos fanáticos que se fazem donos da palavra divina distorcendo-a a seu bel prazer e necessidade.
Mostra os primeiros cristão oprimindo e punindo quem não seguia seus dogmas. Exatamente o contrário do pregado por Jesus Cristo. Um povo perverso que se dizendo cristão, destrói a maior fonte de conhecimento do mundo antigo.
Quem conhece história já viu tudo isso se repetindo ciclicamente na conquista dos aztecas pelos espanhóis católicos, na santa inquisição, na omissão dos maus tratos aos judeus pelos nazistas.
Fica uma impressão forte de revolta e um questionamento sobre os caminhos da religião na civilização.


Brincando de bonecas: nada como a realidade

Bonecas da artista plástica russa Marina Bychkova


Uma aula sobre o outro de si mesmo.

Eu falo muito sobre o amor nos tópicos.
Falo do passado, no presente, mirando no futuro.
Amo sem o objeto e mesmo relutando-o amo-o como a um oposto.
Sou apaixonado por um reflexo, pelo meu contrário.
Onde em mim reside a doçura, lá reflete a rispidez.
Onde respiro cultura, lá exala a ignorância.
E neste devaneio continuo a me perguntar: por quê?
Seria um karma? Um desafio ou um castigo?
Canso de teorizar e sempre preciso de respostas.
Elas me faltam na razão porque este amor é insano e improvável.
Penso que  somos como Yang e Ying: complementos que unidos devem aprender a harmonia da coexistência.
Formando um círculo perfeito, um contendo pelo menos uma faísca do outro.



Princípios complementares

Segundo este princípio, duas forças complementares compõem tudo que existe, e do equilíbriodinâmico entre elas surge todo movimento e mutação. Essas forças são:
  • Yang: o princípio ativo, diurno, luminoso, quente, masculino.
  • Yin: o princípio passivo, noturno, escuro, frio, feminino
Também é identificado como o tigre e o dragão representando os opostos.
Essas qualidades acima atribuídas a cada uma das dualidade são, não definições, mas analogias que exemplificam a expressão de cada um deles no mundo fenoménico. Os princípios em si mesmos estão implícitos em toda e qualquer manifestação.
Os exemplos acima não incluem qualquer juízo de valor, e não há qualquer hierarquia entre os dois princípios. Assim, referir-se a Yang como negativo apenas indica que ele é negativo quando comparado com Yin, que será positivo. Esta analogia é como a carga elétrica atribuída a protons e electrons: os opostos complementam-se, positivo não é bom ou mau, é apenas o oposto complementar de negativo.
O diagrama do Taiji simboliza o equilíbrio das forças da natureza, da mente e do físico. (Preto) e (branco) integrados num movimento contínuo de geração mútua representam a interação destas forças.
A realidade observada é fluida e em constante mutação, na perspectiva da filosofia chinesa tradicional. Portanto, tudo que existe contém tanto o princípio Yin quanto o Yang. O símbolo Taiji expressa esse conceito: o Yin dá origem ao Yang e o Yang dá origem ao Yin.
Desde os primeiros tempos, os dois pólos arquetípicos da natureza foram representados não apenas pelo claro e pelo escuro, mas, igualmente pelo masculino e pelo feminino, pelo inflexível e pelo dócil, pelo acima e pelo abaixo.
O Yang,o poder criador era associado ao céu e ao Sol, enquanto o Yin corresponde à terra, ao receptivo, feminino e à Lua. O céu está acima e esta cheio de movimento. A terra - na antiga concepção geocêntrica - está em baixo e em repouso. Dessa forma, yin passou a simbolizar o repouso e yang, o movimento. No reino do pensamento, yin é a mente intuitiva, feminina e complexa, ao passo que yang é o intelecto masculino,racional e claro. Yin é a tranqüilidade contemplativa do sábio, yang a vigorosa ação criativa do rei.

O Hotu representa a geração do Tai Chi a partir do vazio
Esse diagrama apresenta uma disposição simetrica do yin sombrio e do yang claro . A simetria, contudo não é estática. É uma simetria rotacional que sugere,de forma eloquente, um continuo movimento cíclico. Os dois pontos do diagrama simbolizam a idéia de que toda vez que cada uma das forças atinge seu ponto extremo, manifesta dentro de si a semente de seu oposto

Trilha sonora para virar o dia: Mistura improvável que dá certo.



Mudança de planos

Minha mãe pediu e eu atendi: Assistimos " Cherry Blossoms".
Veja só a critica de quem entende:
"Um filme alemão de baixo orçamento promete ser um dos maiores sucessos do ano. CHERRY BLOSSOMS – HANAMI (Flores de Cerejeira - Hanami) foi apresentado em competição em Berlim e nele a conhecida diretora Doris Dörrie ajudou a fazer praticamente de tudo na produção. O principal suporte artístico do filme está na extraordinária interpretação de Hannelore Elsner. O seu par no filme é também o ótimo (e desconhecido em cinema) Elmar Wepper, que Doris Dörrie foi buscar da televisão onde atuava em produções igualmente baratas. 

O curso da história é muito comovente ao mesmo tempo em que faz críticas ácidas ao jeito do ser alemão, em especial sobre os alemães da Bavária, considerados mais metódicos e tradicionalistas. Quem quiser pode ver também referências ao passado alemão nazista, onde a Bavária foi o principal ‘berçário’, e cujo cinema mitificava os símbolos derivados das montanhas. O fetiche da montanha é transferido aqui ao monte Fuji do Japão. 

Começa o filme com um médico revelando a uma mulher que o seu marido está com uma doença terminal. Ela não vai contar nada para o marido. Vai tentar estimulá-lo a realizar seus últimos sonhos enquanto é tempo. Aí entra o espírito alemão, regrado, metódico. Ele prefere esperar mais um ano até se aposentar. E "montanha por montanha, na Bavária também as temos, para que ir ao Fuji, mesmo que seja a pretexto de ver o filho que está lá a trabalho?", ele argumenta. 

Aos poucos vamos entrando nesta viagem iniciática. A primeira viagem que ele aceita fazer é para Berlim, onde vivem seus dois outros filhos e netos. Os pais, Trudi e Rudi, são considerados um estorvo para os filhos e ninguém tem tempo para sair com eles. Mas Trudi consegue ao menos ver uma performance de teatro Butô, que ela adora e Rudi não suporta. É quando acontece o inesperado. Na segunda viagem que ele aceita fazer com a mulher, ir a um hotel beira-mar no Báltico, Trudi morre. Que ninguém fique zangado com a leitura deste resumo. A própria Doris Dörrie é quem revela estes acontecimentos na sinopse do filme. 

O que realmente está em questão são os elementos emocionais que o espectador irá compor a partir de então. Com Rudi sozinho, sem saber que também está para morrer, ele decide viajar finalmente ao Japão. Mais para realizar o desejo da mulher já morta, do que para ver o filho. Veremos então a transformação de um homem seco e rude em um ser emocional que aos poucos irá perceber o que fez de errado e estúpido na vida. Coisa rara na vida de pessoas que envelhecem aguçando mais que tudo suas contradições. Por isso a comoção que provoca nos espectadores. 

O estímulo de Doris Dörrie é como dizer "faça antes de seja tarde". E o tratamento respeitoso que ela dá à cultura japonesa, mesmo sendo crítica, corrige os desvios do filme anterior de choques culturais com o Japão, a comédia de Sofia Coppola ENCONTROS E DESENCONTROS. Mas o filme alemão também é cruelmente realista. As últimas palavras dos filhos sobre os seus pais fazem ver que os ciclos de insensibilidade seguem se repetindo. Mesmo que o jeito de mistificar uma montanha em nossos dias seja distinto. 


Por Leon Cakoff


Impossível não gostar e não se emocionar.